Você não está de saco cheio à toa: a economia do cansaço está cobrando o preço

Você não está de saco cheio à toa: a economia do cansaço está cobrando o preço
Exaustos, mas produtivos — até quando? — Imagem/Canva

Tem dias que você acorda cansado, mesmo depois de dormir oito horas. Tem semanas que passam voando, mas você sente que não fez nada. Tem épocas em que até as coisas que você ama parecem mais uma obrigação. Se você se identificou, saiba: isso não é só impressão. É um sintoma.

A gente vive numa engrenagem onde o cansaço não é exceção — é rotina.
E isso não é coincidência. É estrutura.
A economia do cansaço está cobrando o preço — física, mental e emocionalmente.

A engrenagem da hiperprodutividade

Vivemos num tempo em que estar ocupado virou status. Dormir pouco é “ser guerreiro”. Ter agenda lotada é “ser valorizado”. Estar exausto é só parte do jogo — e reclamar disso, muitas vezes, é visto como fraqueza ou “falta de gratidão”.

A lógica é simples: quanto mais você faz, mais “útil” parece.
E a produtividade virou um fim em si mesma, não mais um meio.

Só que o corpo não aguenta, a mente não acompanha, e o emocional entra em colapso silencioso.
É como tentar correr uma maratona todos os dias, sem fim e sem linha de chegada.

O capitalismo da atenção e o esgotamento invisível

Não basta entregar no trabalho. Agora você também precisa performar nas redes, manter a estética, ter opinião sobre tudo, estar atualizado com as notícias, cuidar da alimentação, ter rotina de skincare e ainda tirar um tempo para o “autocuidado” — que, ironicamente, também virou uma obrigação.

Enquanto isso, o feed não para. O algoritmo recompensa quem está sempre presente. E quando você tenta sair, ele grita:
“Ei, você está perdendo alguma coisa!”

A consequência? Estamos sempre “ligados”.
Mesmo no descanso, o cérebro continua consumindo estímulos — notificações, vídeos, opiniões, comparações.
É o que alguns estudiosos chamam de fadiga cognitiva constante.

Burnout não é só “trabalhar demais”

Burnout virou palavra da moda, mas ainda é mal compreendido. Ele não nasce apenas do excesso de trabalho — mas do conflito constante entre expectativa e realidade, da sensação de nunca ser suficiente, do esgotamento de sempre ter que dar conta.

E não se trata apenas de uma falha individual.
Existe um modelo econômico inteiro que lucra com o seu cansaço.

Quanto mais você se sente inadequado, mais fácil é vender cursos, produtos, hacks de produtividade e até remédios.

O sistema que vende o problema — e a falsa solução

A economia do cansaço funciona como uma roda-viva:

  1. Você é cobrado a ser mais produtivo.

  2. Fica exausto tentando acompanhar.

  3. Compra soluções rápidas (apps, livros, café, remédio, planner, terapia em 15 minutos).

  4. Retoma o ciclo.

É como se o mundo te colocasse numa esteira rolante em alta velocidade e dissesse:
“Corre mais rápido, você tá ficando pra trás.”

E se o problema não for você — mas o mundo ao redor?

Você não está de saco cheio por preguiça.
Você está de saco cheio porque o sistema exige mais do que os corpos humanos podem dar.
É um cansaço que não passa com descanso — porque não é só físico. É existencial.

E talvez a cura não esteja em otimizar o tempo, mas em rever a lógica que mede o nosso valor pelo quanto entregamos.

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