Por que os influenciadores de aposta estão na mira da justiça — e da saúde mental pública?

Por que os influenciadores de aposta estão na mira da justiça — e da saúde mental pública?
Quando o “green fácil” vira prejuízo invisível. — Imagem/Canva

Eles aparecem em vídeos com carros de luxo, sorrisos largos e promessas sedutoras:
“Ganhei R$ 20 mil com esse jogo”,
“Esse método não tem erro”,
“Você só perde se não tentar”.

No fundo, estão promovendo o mesmo produto:
apostas esportivas — muitas vezes em sites de legalidade questionável e com um discurso que mistura lucro, motivação e “liberdade financeira”.

Mas agora, essa narrativa enfrenta resistência.

Ministério Público, agências reguladoras e até psicólogos estão soando o alarme.
E a pergunta que incomoda começa a ganhar força:

O quanto esses influenciadores estão contribuindo para uma epidemia silenciosa de endividamento, vício e frustração financeira?

O problema não é só a aposta. É o que ela promete.

Apostar não é crime.
Sites de apostas, quando devidamente regulamentados, operam dentro da lei.
Mas o que tem incomodado autoridades e especialistas é como o conteúdo está sendo vendido — e para quem.

Perfis populares nas redes sociais:

  • Prometem lucros irreais e rápidos

  • Usam gatilhos de escassez (“última chance”) e autoridade (“sou trader profissional”)

  • Disfarçam o risco com jargões de investimento

  • Apelam ao emocional de quem busca “renda extra”, mas sem mostrar as perdas

O resultado é uma estética de sucesso fácil, que transforma o jogo de azar em estilo de vida aspiracional.
E isso tem impacto real — especialmente sobre jovens de baixa renda, adolescentes e pessoas financeiramente vulneráveis.

Um ciclo perigoso: ansiedade, vício e dívida

Estudos recentes mostram que as apostas online estão diretamente ligadas a sintomas de ansiedade, depressão e impulsividade.

A lógica é simples e cruel:

  • O “quase lucro” estimula a persistência

  • A derrota é atribuída à falta de “técnica”

  • O medo de ficar de fora (FOMO) empurra o usuário para mais apostas

  • A perda gera vergonha, mas o ambiente digital facilita o reinício

A isso soma-se a pressão social das redes, onde vitórias são exibidas e derrotas, escondidas.

O impacto é crescente:

  • Jovens que apostam escondido dos pais

  • Trabalhadores endividados tentando “recuperar” o que perderam

  • Pessoas em tratamento por vício digital e compulsão por jogo

A saúde mental pública começa, silenciosamente, a pagar a conta.

E a justiça começa a reagir

No Brasil, o cenário regulatório para apostas ainda está em construção — mas o marketing feito por influenciadores já está sendo investigado.

Alguns pontos em análise:

  • Promoção de sites sem licença

  • Publicidade disfarçada como “dica pessoal”

  • Falta de aviso sobre os riscos reais

  • Alvo em públicos vulneráveis (como adolescentes)

Em 2023, o Conar já emitiu alertas contra campanhas com linguagem enganosa ou promessas exageradas de ganho.
Em 2024, o Ministério da Fazenda passou a exigir registro formal de casas de aposta e regras mais rígidas para publicidade.

O que está em jogo aqui não é apenas o dinheiro, mas a ética.

O papel (e a responsabilidade) de quem influencia

Influenciadores têm poder.
E com ele, vêm decisões difíceis:
O que vale mais — o engajamento fácil ou a integridade do conteúdo?

Promover um estilo de vida baseado em apostas pode parecer inofensivo na superfície, mas os danos se acumulam fora da tela.

A linha entre entretenimento e manipulação fica cada vez mais tênue quando o público é induzido a achar que perdeu porque “não foi disciplinado o suficiente”.

Isso não é liberdade.
É exploração emocional.

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