Quem assistiu O Diabo Veste Prada sabe bem: aquele salto alto correndo na redação, os e-mails respondidos a qualquer hora, o chefe impossível e a ideia de que “sofrer” no trabalho é um sinal de sucesso.
Na época, o filme virou símbolo de uma geração que aprendia a associar status à exaustão — e que via no sofrimento profissional quase um “rito de passagem” para chegar ao topo.
Mas… será que hoje essa lógica ainda faz sentido?
Neste texto, vamos analisar como O Diabo Veste Prada expõe a cultura do trabalho tóxico, o que mudou de lá pra cá (se é que mudou), e por que cada vez mais pessoas estão dizendo não à glamourização do burnout.
Lançado em 2006, o filme é baseado no livro homônimo de Lauren Weisberger e mostra o dia a dia de Andy Sachs, uma jornalista em início de carreira que aceita trabalhar como assistente da poderosa Miranda Priestly, editora-chefe da revista Runway (inspirada na Vogue).
O que parecia uma oportunidade dos sonhos se transforma num pesadelo de jornadas intermináveis, pressão constante e a sensação de que nunca se é “bom o bastante”.
Mesmo com críticas à cultura corporativa, o filme foi interpretado por muitos como um retrato aspiracional — como se aquele sofrimento fosse necessário para “vencer na vida”.
Por muitos anos, trabalhar demais foi sinônimo de orgulho. Frases como:
“Quem quer, faz acontecer”
“Enquanto você dorme, alguém está trabalhando”
“Trabalhe até que seus ídolos se tornem seus rivais”
Esses lemas alimentaram uma cultura de workaholismo onde descanso era visto como fraqueza — e esgotamento era normalizado.
O Diabo Veste Prada virou quase um manifesto inconsciente desse modelo, onde o brilho da carreira justificava qualquer sacrifício pessoal.
De lá pra cá, muita coisa começou a mudar — ainda que aos poucos. A chegada das redes sociais, a pandemia, o aumento dos casos de burnout e o surgimento de movimentos como o quiet quitting colocaram o tema em pauta.
Hoje, cada vez mais profissionais questionam:
Vale a pena trocar saúde mental por um crachá de prestígio?
Reconhecimento sem equilíbrio ainda é sucesso?
O que define uma carreira “bem-sucedida”?
A resposta está mudando. E o mercado — ainda que devagar — começa a responder.
O novo perfil de trabalhador valoriza:
Flexibilidade
Respeito aos limites pessoais
Propósito e cultura organizacional saudável
Liderança empática
Não basta mais ter um bom cargo ou salário alto. Se o ambiente for tóxico, a tendência é o talento ir embora — algo impensável na época de Andy Sachs, que aguentava tudo em nome de uma “grande chance”.
Talvez Andy não aceitasse aquele emprego. Ou talvez aceitasse, mas colocasse limites. Miranda Priestly teria que repensar sua liderança — ou correria o risco de ver sua equipe debandar.
Em 2025, mais do que nunca, trabalho precisa ser sustentável, e sucesso não combina com esgotamento crônico.
O Diabo Veste Prada continua sendo um clássico, mas hoje é visto com novos olhos. Aquilo que foi romantizado como ambição agora é reconhecido como um alerta sobre relações de trabalho abusivas.
A lógica do trabalho tóxico está sendo desconstruída. E ainda que nem tudo tenha mudado, estamos, finalmente, aprendendo que o caminho até o topo não precisa passar pela exaustão.
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